sábado, 25 de setembro de 2010
Barroco
Características do movimento na literatura
O Barroco deu inicio com a publicação do poema épico “Prosopopéia”, de Bento Teixeira, em 1601, e termina com a publicação das “ Obras poéticas” do escritor Claudio Manoel da Costa e fundação da Arcádia Ultramarina , movimento poético- literário que dá inicio ao Arcadismo , em 1769.
Contexto Histórico
O Barroco brasileiro ocorre tardiamente, entre os séculos 17 e 18. Segue os modelos ibéricos e há grande influência espanhola, pois o Barroco começou em Portugal durante a União Ibérica. Sofre também forte influência da Contra-Reforma, movimento com que a Igreja católica buscou restaurar o poder político e social que perdeu durante o Renascimento.
Contexto Cultural
O Barroco é, fundamentalmente, uma expressão do conflito entre o humanismo renascentista e a tentativa de restauração de uma religiosidade "medieval", entre a razão e a fé, entre o material e o espiritual.
Características do estilo
A evasão ao conflito existencial enunciado no item anterior foi buscada através de uma valorização exagerada da forma, que resultou numa literatura marcada pelo rebuscamento da linguagem, sobrecarregando o texto com figuras de estilo, como a metáfora, a alegoria, a hipérbole e a antítese. O dualismo barroco coloca em contraste a matéria e o espírito, o bem e o mal, Deus e o diabo, céu e terra, pureza e pecado, a alegria e a tristeza , a vida e a morte.
A arte é identificada com a engenhosidade do artista que pode se dar no nível da forma (Cultismo) ou do conteúdo (conceptismo) .
A idéia de que o tempo consome tudo e leva consigo, e que conduz irrevogavelmente a morte, reafirma os ideais de humildade e desvalorização dos bens materiais, ou seja, sem apego aos bens materiais.
Gosto pela grandiosidade: característica comum expressa com o auxilio de hipérboles, ou seja exageros, figura de linguagem que consiste em aumentar exageradamente algo a que se estar referindo.
Os principais autores desse período foram Gregório de Matos (1623 – 1696) e Pe Antonio Viera ( 1608 1697)
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
CONTEMPLANDO AS COISAS DO MUNDO DESDE O SEU RETIRO
Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa:
Com sua língua ao nobre o vil decepa:
O Velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa
A flor baixa se inculca por Tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra o que mais chupa.
Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
Gregório de Matos Guerra
O Boca de Inferno
POEMAS BARROCOS
A D. ÂNGELA
Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara?
Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda. Gregório de Matos Guerra
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Tentação - Clarice Lispector
Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.
Lá vinha ele trotando, à frente da sua dona, arrastando o seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.
A menina abriu os olhos pasmados. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.
Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.
Os pêlos de ambos eram curtos, vermelhos.
Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se, com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes do Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.Mas ambos eram comprometidos.
Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina. Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.